domingo, 8 de agosto de 2010

Xingando seu filho


É preciso pensar muito antes de se tomar uma decisão que vai pesar para o resto da vida. A escolha do nome de seu filho é uma dessas, a diferença é que é o resto da vida do seu filho. Ele carregará com orgulho, desprezo ou vergonha o nome que os pais lhe derem. É muita responsabilidade e motivo de tensão para o casal. Ao escolher o nome do neném, eles podem estar inaugurando uma longa lista de traumas e abrindo uma série de terapias.
Na tentativa de dividir a culpa, os pais pedem conselhos a amigos e parentes, fazem listas de nomes que detestam (todos) e de nomes que adoram (nenhum), se inspiram em novelas, filmes, a música mais tocada, no artilheiro da rodada, até no nome do amante, sem que o corno saiba. Na realidade, todas as iniciativas acima partem da mulher. O pai tem uma idéia mais simples, vai à banca da esquina, compra o livro Xingando seu Bebê e chega em casa como quem resolveu a parada.

- Ta aqui, meu amor, o que a gente precisava.
- E a gente precisava exatamente de quê?
- Ora, de um livro com nomes de bebês!
- Por acaso, você está me chamando de uma retardada que não conhece nomes? Está querendo dizer que eu sou uma troglodita que não lembra os nomes das pessoas da família, do trabalho, dos vizinhos, da gente de rua? Se eu precisar de uma lista de nomes para escolher o do meu filho, eu pego uma catalogo telefônico!
- De que cidade? – pergunta o marido, considerando uma boa idéia.
- Deixa pra lá, me fale desse livro. Você já tem alguma sugestão?
- Peraí, vamos com calma! Eu já comprei o livro, agora você lê e escolhe o nome. E a divisão de tarefas, como é que fica pô?

Em qualquer discussão de um casal sobre o nome do bebê, o marido procura se esquivar de fazer diretamente uma sugestão. Ele sabe que um simples sugestão na trave será relembrada no meio de uma briga, quando o garoto estiver com 13 anos.

- E o seu pai, que queria que você se chamasse Agaponto! Você sabia disso, meu filho?
- É verdade, pai?
- Bem, filho...
- Só responde uma coisa, pai: é verdade?
- É.
- Aumento de mesada a-go-ra!!!

Um fenômeno curioso vem acontecendo recentemente. Enquanto a alta sociedade batiza seus filhos de João, Maria ou Pedro, o povão está preferindo nomes incrementados, como Everson Gledson, Ingrid Kelly Evelyn ou Peterson Eisenhower. Em resumo, os pobres, que antes chamavam João, Maria ou Pedro, resolveram coloca seus herdeiros em um degrau acima na escala social. O salário é baixo, mas dá para umas extravagâncias, como botar um nome de rico no seu filho. O problema é que os ricos passaram a botar nome de pobre em seus filhos para despistar os seqüestradores e a Receita Federal. Antes da invenção da ultrassonografia, o casal tinha mais tempo para pensar no assunto, e não precisava dar uma sugestão na saída do exame. Também era muito fácil descobrir quem recebeu o nome antes de nascer, era Iraci, Guaraci, Juraci, pessoas cujos nomes são bi. Hoje em dia, pouca gente tem esses nomes, apesar de ser mais fácil descobrir quem é bi.
Meses depois o marido reencontra o livro “Xingando seu Bebê” que ele havia escondido envergonhado da mulher. E, pela a primeira vez, abre o livro. Ele descobre que o livro não é uma simples lista de nomes, ele também traz o significado deles. Um novo horizonte se descortina. O pai mergulha na busca do nome com o significado mais adequado. Se você quer que seu filho seja sadio, com uma boa saúde, ele pode se chamar Hermógenes ou Higino; se o casal já sabe que é uma menina e deseja que ela seja uma figura ilustre, basta chamá-la Aristocléia. Uma filha doce como mel? Melitina. Seu filho, um homem potente? Ejaculácio. Sua filha, a rainha do baile funk? Vagaranha... Depois de muito folhear o livro, o pai desiste. É como procurar no dicionário uma palavra que você não sabe qual é.
Finalmente, o pai encontra a solução. Resolve que vai registrar o filho com um nome Provisório. Quando o Provisório aprender a ler e a escrever, o Provisório que vá ao cartório e que mude o seu nome para o que quiser.

Helio de la Peña
By: Guilherme 

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